terça-feira, 20 de abril de 2010

Poemas de autores


MARABÁ

                                                                       Gonçalves Dias


Eu vivo sozinha; ninguém me procura!
Acaso feitura
Não sou de Tupã?
Se algum dentre os homens de mim não se esconde:
-          “Tu és”, me responde,
“ Tu és Marabá!”
-:-:-:-:-:-
Meus olhos são garços, são cor das safiras,
Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;
Imitam as nuvens de um céu anilado,
As cores imitam das vagas do mar!
-:-:-:-:-:-
Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:
-“Teus olhos são garços”,
Responde anojado, “mas és Marabá”:
“Quero antes uns  olhos bem pretos, luzentes,
“ Uns olhos fulgentes”,
“Bem pretos, retintos, não cor d’anajá!”
-:-:-:-:-:-
É alvo meu rosto da alvura dos lírios,
Da cor das areias batidas do mar;
As aves mais brancas, as conchas mais puras
Não têm mais alvura, não têm mais brilhar.
Se ainda me escuta meus agros delírios:
-“És alva de lírios”,
Sorrindo responde, “mas és Marabá”:
“Quero antes um rosto de jambo corado,
“Um rosto crestado
“Do sol do deserto, não flor de cajá.”


Meu colo de leve se encurva engraçado,
Como hástea pendente de cactus em flor;
Mimosa, indolente, resvalo no prado,
Como um soluçado suspiro de amor!

“Eu amo a estatura flexível, ligeira,
Qual duma palmeira”,
            Então me respondem: “tu és Marabá;
“Quero antes o colo da ema orgulhosa,
“Que pisa vaidosa,
“Que as flóreas campinas governa, onde está”.
-:-:-:-:-:-
Meus loiros cabelos em ondas se anelam,
O oiro mais puro não tem seu fulgor;
As brisas nos bosques de os ver se enamoram,
De os ver tão formosos como um beija-flor!
-:-:-:-:-:-
Mas eles respondem: “Teus longos cabelos,
“São loiros são belos,
“Mas são anelados; tu és Marabá:
“Quero antes cabelos, bem lisos, corridos,
“Cabelos compridos,
“Não cor d’oiro fino, nem cor d’anajá.”
-:-:-:-:-:-
E as doces palavras que eu tinha cá dentro
A que has direi?
O ramo d’acácia na fronte de um homem
Jamais cingirei:
-:-:-:-:-:-
Jamais um guerreiro da minha arasóia
Me desprenderá:
Eu vivo sozinha, chorando mesquinha,

Que sou Marabá!




Angústia

Ademir Braz
Ao entardecer, o Tocantins em chama
- à plena luz do sol que se afoga –
tem, no abandono de sua água,
a mesma plenitude que me dana.

Sou luz e dor à tona d’água.

Desfeito no encanto dessa hora
em que soluça a tarde e minha mágua
é feita de presença e de agora,
assim me ponho inteiro sobre o mundo.

Suave como a noite é meu espanto.
Maior do que a tarde, e mais profundo,
é esse amor tardio com que me encanto.

Amo. E sou rio tranqüilo e céu revolto.

À margem desse rio, posto em sossego,
sou irmão da lua e do morcego
e desse pirilampo errando solto.

Desse amor me vem a luz que cega,
a noite que flutua, o sol já morto,
e esta solidão que o rio carrega
sem jamais deter-se em qualquer porto.

À margem desse rio, a céu aberto,
entre a noite virgem e o sol aflito,
Meu coração é pássaro inquieto
e flor rompendo a noite como um grito.


SOU DESTE TORRÃO

Frederico Morback

Sou homem da Terra , tropeiro Valente
Dou homem de enchente,
Sou filho de Deus ,
Eu creio na gente, na terra semente,
Na garra do povo que esta terra deu .

Tenho alma lavada na beira do rio
Nasci nesta terra, sou deste torrão,
Sou Pirucaba e sou da Mangueira,
De rios valente eu, queres não?!

Eu creio em mãe D’água, Boiúna
E mandingas
Creio em Nego d’água e no Boitatá,
Sou lá do Varjão, sou Pereirinha,
Do Canela Fina e sou do amapá.

Banhei em cacimba ainda menino.
Eu vi o Divino e Pomba passar
Vi o Boi do Cambraia e vi o Palmica.
Nasci nas entranhas de ti Marabá.


 MARABÁ

   Frederico Morback

Cidade que nasceste na pont.
Onde os rios se encontram e descem,
Juntos correm pro mar.
Tocando assuntos dos pioneiros
Que a história aponta .

 Goianos, marabaenses, tanta gente!
Desceu o Tocantins nessa jornada
Que aqui findou e assim estava  fundadas.
Para seres depois tão importante.

Hoje do ferro é a capital
É grande sua fama de dinheiro
Ah! se fosse também de humanidade .
Para que Francisco Coelho
 Num  profundo Orgulho de ter sido “O Pioneiro “
Fosse ainda mais feliz na eternidade.


 EU E MINHA RUA
 Ademir Braz


Minha rua quase feia
Tortuosa, esburacada,
Mas nenhum é mais bonita
Nas noites de lua cheia.

Crianças brincam de roda
Cantando “três cavaleiros
Todos três chapéu na mão”
Vão levantar Terezinha
Que rolou, caiu no chão.

Tem buracos onde a água,
 Vai brincar de se esconder.
Nas calçadas  o luar
Dorme até o amanhecer.

Com cantigas nas calçadas
Minha  rua é como eu:
Quase alegre olhando a lua.
E no luar encontrando.
Um sonho que se perdeu.


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